segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Joaquim Maria Machado de Assis




Hoje fazem 100 anos que esse lindo Senhor da foto faleceu! Eu realmente queria ter tido a oportunidade de conhece-lo porque esse carioca era supimpa! Pau no rabo dos que acham que o que ele diz é babosera e não serve pra nada. Bando de pobres burros que devem morrer secos sem um puto de real...
Machadinho meu véio, eu te amo! Que Deus o tenha meu tio!

"IDÉIAS ARITMÉTICAS

Não digo o mais, que foi muito. Nem ele sabia só elogiar é pensar, sabia
também calcular depressa e bem. Era das cabeças aritméticas de Holmes (2
+ 2 = 4). Não se imagina a facilidade com que ele somava ou multiplicava
de cor. A divisão que foi sempre uma das operações difíceis para mim,
era para ele como nada: cerrava um pouco os olhos, voltados para cima, e
sussurrava as denominações dos algarismos: estava pronto. Isto com sete,
treze, vinte algarismos. A vocação era tal que o fazia amar os próprios
sinais das somas, e tinha esta opinião que os algarismos, sendo poucos,
eram muito mais conceituosos que as vinte e cinco letras do alfabeto.
- Há letras inúteis e letras dispensáveis, dizia ele. Que serviço
diverso prestam o d e o t? Têm quase o mesmo som. O mesmo digo do b e do
p, o mesmo do s, do c e do z, o mesmo do k e do g, etc. São trapalhices
caligráficas. Veja os algarismos: não há dois que façam o mesmo ofício;
4 é 4, e 7 é 7. E admire a beleza com que um 4 e um 7 formam esta coisa
que se exprime por 11. Agora dobre 11 e terá 22; multiplique por igual
número, dá 484, e assim por diante. Mas onde a perfeição é maior é no
emprego do zero. O valor do zero é, em si mesmo, nada; mas o ofício
deste sinal negativo é justamente aumentar. Um 5 sozinho é um 5;
ponha-lhe dois 00, é 500. Assim, o que não vale nada faz valer muito,
coisa que não fazem as letras dobradas, pois eu tanto aprovo com um p
como com dois pp.
Criado na ortografia de meus pais, custava-me a ouvir tais blasfêmias,
mas não ousava refutá-lo. Contudo, um dia. proferi algumas palavras de
defesa, ao que ele respondeu que era um preconceito, e acrescentou que
as idéias aritméticas podiam ir ao infinito, com a vantagem que eram
mais fáceis de menear. Assim que, eu não era capaz de resolver de
momento um problema filosófico ou lingüístico, ao passo que ele podia
somar. em três minutos, quaisquer quantias.
- Por exemplo... dê-me um caso, dê-me uma porção de números que eu não
saiba nem possa saber antes... olhe, dê-me o número das casas de sua mãe
e os aluguéis de cada uma, e se eu não disser a soma total em dois, em
um minuto, enforque-me!
Aceitei a aposta, e na semana seguinte levei-lhe escritos em um papel os
algarismos das casas e dos aluguéis. Escobar pegou o papel, passou-os
pelos olhos a fim de os decorar. e enquanto eu fitava o relógio, ele
erguia as pupilas, cerrava as pálpebras, e sussurrava... Oh! o vento não
é mais rápido! Foi dito e feito; em meio minuto bradava-me:
- Dá tudo 1:070$000 mensais.
Fiquei pasmado. Considera que eram não menos de nove casas, e que os
aluguéis variavam de uma para outra, indo de 70$000 a 180$000. Pois tudo
isto em que eu gastaria três ou quatro minutos, - e havia de ser no
papel,- fê-lo Escobar de cor, brincando. Olhava-me triunfalmente, e
perguntava se não era exato. Eu, só por lhe mostrar que sim, tirei do
bolso o papelinho que levava com a soma total, e mostrei-lho; era aquilo
mesmo, nem um erro: 1:070$000.
- Isto prova que as idéias aritméticas são mais simples, e portanto mais
naturais. A natureza é simples. A arte é atrapalhada.
Fiquei tão entusiasmado com a facilidade mental do meu amigo, que não
pude deixar de abraçá-lo. Era no pátio; outros seminaristas notaram a
nossa efusão; um padre que estava com eles não gostou.
- A modéstia, disse-nos, não consente esses gestos excessivos podem
estimar-se com moderação.
Escobar observou-me que os outros e o padre falavam de inveja e
propôs-me viver separados. Interrompi-o dizendo que não inveja, tanto
pior para eles.
- Quebremos-lhe a castanha na boca!
- Mas...
- Fiquemos ainda mais amigos que até aqui.
Escobar apertou-me a mão às escondidas, com tal força que ainda me doem
os dedos. É ilusão, decerto, se não é efeito das longas horas que tenho
estado a escrever sem parar. Suspendamos a pena por alguns instantes..."


"Amai, rapazes! e, principalmente, amai
moças lindas e graciosas; elas dão remédio ao mal, aroma ao infecto,
trocam a morte pela vida... Amai, rapazes!"
Machado de Assis

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